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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O Karate como Defesa Pessoal

Se o karate é uma arte de defesa pessoal, e de facto é, para ser realmente eficaz deveria mudar com o passar do tempo.

A sua técnica desenvolveu-se num ambiente onde a maior agressão era física, através de confronto frente a frente; um ambiente onde não se disparava com um revólver ou com uma espingarda, ou não habitualmente pelo menos. Na actualidade não é este o caso, podemos ser atacados com armas muito sofisticadas, como uma espingarda com mira laser, por exemplo, e a técnica de karate torna-se totalmente ineficaz. Por outro lado, não estou a negar o facto de que, ao dobrar de qualquer esquina, poderemos ser assaltados, feridos ou mesmo assassinados; factos destes ocorrem no mundo a cada minuto e devemos estar preparados para uma tal eventualidade. Ainda assim, na minha opinião não é essa a única forma pela qual somos agredidos, inclusivamente e apesar da grande violência que existe nas ruas das principais cidades do mundo creio que a agressão física é o menor dos ataques a que um indivíduo actualmente se encontra exposto. Além disso deve ser clarificado que se estivéssemos em pleno conflito armado ou rodeados de um ambiente altamente hostil, o nosso treino de karate deveria ser metodologicamente diferente do que se realiza habitualmente.

A minha opinião é que o sistema mais adequado de defesa pessoal é aquele que melhor prepara o praticante para defender-se de agressões que existem no seu meio. Creio que na nossa sociedade actual somos permanentemente agredidos, de modos muito mais subtis que um indivíduo armado. Considero que a maior agressão é do tipo psicológico e apresenta-se de variadas maneiras.

O que faz com que seja mais preocupante é que habitualmente vem disfarçada de uma maneira muito agradável. Somos permanentemente manipulados pela propaganda, pela publicidade e cada vez mais o homem moderno perde a sua identidade. Vive confundido numa massa conduzida unicamente a produzir, a consumir que, não só nos diz o que consumir mas, ainda, o que pensar. A sociedade moderna vive cada dia mais sem uma direcção, sem saber por quê, o para que é que vive e, em resultado disto criámos, ou estamos criando, uma sociedade sem valores, onde o único bem valioso é aquele que se pode transaccionar no mercado.

Por outro lado, os diferentes grupos de poder, sejam económicos, políticos, religiosos, ou outros, tratam de manipular o homem para o seu benefício sem se importar com o que se passa com este. Nesta situação o indivíduo vive cada vez com mais "stress", com mais angústia, com mais ansiedade, e no meio de grandes depressões. Chegou-se a um ponto tal que parece que aqueles que não sofrem de "stress" ou não sofrem de depressões não estão vivendo, quando é precisamente o contrário. Porque o homem tem vindo a perder cada dia mais a sua ligação com a vida, vindo a afundar-se num poço do qual não sabe como sair.

Mas então como pode a sociedade moderna e os homens e mulheres que a constituem defender-se deste destino?

Creio que é esta a raiz da maior agressão a que o homem moderno está sujeito, agora, não é uma questão de se defender contra um ataque com o punho ou com o pé ou com um objecto. Portanto parece-me muito restrito falar de defesa pessoal em termos de atacar e não ser atingido. Penso que o karate como defesa pessoal deve preparar o homem não só para as agressões físicas mas também para fazer face à grande agressão psicológica a que está exposto.

Se a atitude psicológica é fundamental numa agressão física, no caso de uma agressão psicológica a atitude mental do indivíduo é a defesa em si mesma.

Há muitos anos atrás, eu encontrei-me com um "Campeão de Karate" no Brasil, um desportista famoso graças ao elevado nível que exibia nas competições. Era tinha sido "Campeão Nacional" em vários anos consecutivos, o que demonstrava que o seu nível estava acima da média, na sua área geográfica. Ganhou também "Taças Internacionais" e o seu nome acabou por figurar entre os melhores competidores do mundo. Muitas vezes ouvi japoneses residentes no Brasil dizerem: "Ele é um samurai moderno!". Anos mais tarde vi-o no Rio de Janeiro, deitado numa rua, vivendo como um pedinte sem abrigo. Eu não poderia acreditar. Quando eu vi o meu instrutor, custou-me a crer que era realmente ele.

Eu mencionei este caso, porque foi o mais impressionante que eu já vi, embora não seja caso único. O que aconteceu? Quem é que estava errado? O mestre, o instrutor ou o estudante? Por que é que isto acontece? Será que o karate só é útil para campeonatos e nada mais?

Com o passar dos anos vi, também, campeões, instrutores e mestres tornarem-se alcoólicos e viciados em drogas e muitas vezes me perguntei, por quê? O que é que está errado? O que significa tem karate-do para estas pessoas? Era isto que Mestre Funakoshi queria para os seus estudantes? E devo, além disso, considerar a arrogância e a prepotência daqueles que, por terem começado o seu treino mais cedo do que os outros, se consideram acima dos outros, apenas pelo mérito de ter sido nascido mais cedo, sem levarem em conta que, em muitos casos, é com os jovens que devemos aprender. Isto pode provar que o karate falhou como método do auto-desenvolvimento do indivíduo e consequentemente como técnica de auto-defesa.

Talvez não seja excessivo dizer que, para mim pessoalmente, parece-me que a defesa contra esta última é mais importante já que a defesa perante a agressão física é inerente à estrutura da técnica. De qualquer considero que em ambos os casos a atitude psicológica é o elemento fundamental para que a aplicação da defensa seja adequada. Se a atitude psicológica é fundamental face a uma agressão física, no caso de uma agressão psicológica a atitude psicológica do praticante é a defesa em si. Põe-se então a questão: através de que métodos podemos obter uma maior eficácia no karate como um sistema de defesa pessoal de acordo com os tempos modernos?

Eu não tenho uma resposta definitiva para este questões, embora tenha muitas hipóteses e teorias, mas parece-me evidente que o karate falhou como sistema de auto-defesa, porque não é capaz de proteger o indivíduo das agressões em torno dele, nem é capaz de confrontar e controlar os seus medos, deixando a porta aberta para atitudes como vaidade, arrogância, prepotência e agressividade, tão comuns na história dos homens. Seria interessante saber o que era o karate para estudantes, instrutores ou mestres antes de terem começado a treinar.

A questão agora é: Quais são os métodos os mais eficazes dentro do karate como sistema de auto-defesa de acordo com os tempos modernos?

Eu penso que um método eficaz de auto-defesa no Karate-do, nos dias de hoje, deve ser orientado no s entido de desenvolver nos praticantes uma atitude psicológica que os ajude claramente a ver o que acontece em seu redor, ver o agressor, seja ele físico ou psicológico, externo ou interno. Mas nós os praticantes no treino devemos procurar uma conexão connosco mesmo, com os nossos medos e fraquezas, com os nossos sentimentos e emoções, de modo que possamos olhar para o nosso eu e para aquilo que nos rodeia de uma forma diáfana e cristalina.

Assim, é recomendável que o treino seja orientado para a relaxação e harmonização dos movimentos, que me ajuda a ligar os meus sentimentos com os do meu companheiro e assim caminharmos juntos no sentido da paz e da harmonia. Neste método, o praticante através da sua própria prática pode começar a perceber o que acontece em torno dele, não apenas as suas experiências no karate, mas também o que acontece em torno dele na sua vida poderá aspirar a viver num mundo melhor. Não será esta a mais importante das defesas pessoais?

Quando se compreende que o karate tem uma aplicação mais vasta no nosso dia-a-dia moderno, devemos compreender que a agressão física é uma das menores agressões a que estamos expostos, especialmente quando consideramos que as agressões psicológicas existem em cada dia, hora após hora e nunca cessam. Compreendemos consequentemente que o que deve ser escrutinado é o nosso próprio ser interior.

O Karate-do pode ser muitas coisas ao mesmo tempo e é aí que radica a sua riqueza, mas para mim é um caminho para o auto-desenvolvimento, nos qual nos damos conta de que estamos cheios de virtudes e de grandes defeitos e o Karate-do é o método que podemos usar vermo-nos a nós próprios e para tomar consciência que os erros na vida são o resultado das nossas próprias acções. Esta é a base para o provérbio que "o inimigo real que temos nas nossas vidas somos nós próprios".

O karate é defesa pessoal, é certo, mas é também um "Do", ou seja um caminho de desenvolvimento que guia o indivíduo ao auto-conhecimento através da via marcial. Mas se queremos vê-lo como um "Do", devemos ser capazes, no meu ponto da vista, de compreender o nosso microcosmo e o nosso macrocosmo e a compreensão disto conduzir-nos-á inevitavelmente à compreensão de nossas vidas e consequentemente das vidas dos nossos semelhantes. É por esta razão que poderemos afirmar que o Karate-Do é fundamentalmente um caminho de vida.

A compreensão do nosso macrocosmo e do nosso microcosmo deve mostrar-nos que nós somos essencialmente indivíduos muito fracos, e que devemos submeter-nos a uma disciplina espiritual e mental que possa outorgar-nos uma auto-defesa adequada face às vicissitudes da vida, que deva ser capaz de conduzir o praticante num caminho de desenvolvimento mental, emocional e espiritual, um que lhe possa oferecer paz e harmonia, só dessa forma a vida humana poderá alcançar um desenvolvimento completo.

Se o karate-do não for capaz de me oferecer harmonia e paz para viver a minha vida, poderei eu dizer que o Karate-do ajudou-me a proteger-me? Se o Karate-do me fez desenvolver a minha vaidade, arrogância, agressividade, competitividade e a ascensão à custa dos outros, não poderei afirmar que o Karate-do tenha sido usado para proteger a vida das pessoas. O que é o karate então? Ou melhor dizendo, "o que é que eu fiz com o Karate"? Somente quando o Karate despertou em mim a consciência da necessidade de ajudar os outros e a compreensão que devemos aprender a caminhar juntos integrado num caminho de integração e de irmandade, só então poderemos deduzir a que a arte nos trouxe paulatinamente mais perto de nós e dos nossos semelhantes. Somente neste caso poderemos dizemos que o objectivo da arte está sendo alcançado e o praticante poderá dizer "o Karate-Do protegeu a minha vida".

Somente então podemos dizer que o Karate-do é realmente sistema de defesa pessoal eficaz para os tempos modernos que protegeu a minha vida e dos demais.

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