Dojo Kun

Dojo Kun Dojo Kun (Os cinco princípios éticos do Karate) HITOTSU JINKAKU KANSEI NI TSUTOMURU KOTO - Esforçar-se para formação do caráter saudável HITOTSU MAKOTO NO MICHI O MAMORU KOTO - Fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão HITOTSU DORYOKU NO SEISHIN O YASHINAU KOTO - Criar o intuito de esforço HITOTSU REIGI O OMONZURU KOTO - Respeito acima de tudo HITOTSU KEKKI NO YU O IMASHIMURU KOTO - Conter o espírito da agressão indestrutiva ! ! !

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Karate: Ética em Karate-do

Karate: Ética em Karate-do

REGRAS DE COMPETIÇÃO CLICK http://www.fnkp.pt/home/normas/RegrasCompeticaoWKF.pdf



A primeira lição em Karate-do começa com a prática da saudação. Depois, então, ela é sempre praticada e recordada. A sua importância é demarcada ainda mais, quando começamos a treinar combate com um parceiro.

Sómente aqueles que entendem a profundidade do seu sentido, conseguem chegar aos mais altos níveis de competência na vida.

Karate-do é uma arte marcial e como tal, não tem fim, nem explicação sobre si mesma.

É através de um processo de treino intensivo e de uma rigorosa disciplina que tentamos compreender e atingir o «Michi» (caminho) ou o «Do» (Via), do Karate.

A importância de Rei, sem a qual, o Karate-do cessaria de existir, era inteiramente reconhecida pelo Mestre Funakoshi, que reafirmava sempre sobre a sua importância aos seus alunos, num dos seus 20 Princípios de Karate-do (Karate-do Ni Ju Kyokun), os quais, mais adiante abordaremos: ” O Karate-do começa com Rei e acaba com Rei ! ”

«Rei» pode ser defenido como a vontade de estabelecer um relacionamento, baseado na mútua confiança, boa-vontade, a compreenção e o respeito pelos sentimentos dos outros, demonstrando o nosso respeito.

Na sociedade, é um modo de estabelecer a harmonia entre as pessoas, por formas a contribuir para uma nova sociedade e, consequentemente, um Mundo melhor.

«Reigisaho» significa “código de etiqueta”, e é a melhor forma de expressar este conceito em sociedade. Todo aquele que treina Karate-do deve tentar compreender o profundo significado de Rei, e por sua vez, pôr em prática na vida do dia-a-dia, comportando-se sob os princípios de Ética.

Karate-do é natural e, como tal, deveria ser aplicado na nossa vida diária.

Na prática, Rei é a cerimónia ou a formalidade entre duas ou mais pessoas, as quais, ao encontrarem-se, trocam entre si, o seu respeito, a sua confiança.

Rei é, acima de tudo, a vontade de respeitar a dignidade humana e de demonstrar esse respeito. É uma maneira de desenvolver o relacionamento entre as pessoas e por conseguinte, de ordem social.

«Setsu» é a expressão desta atitude, tanto em Ritsurei, como também, e neste caso ainda mais realçado, em Zarei, conforme atrás foi referido.

Sómente aqueles que praticam Karate-do devem aprofundar a compreenção e o espírito de Rei, e observar, rigorosamente, as regras de «Setsu», nas relações humanas e sociais.

Perguntaram um dia ao Mestre Kanazawa, porque razão, todas as pessoas, desde o polícia ao empregado de restaurante, passando pelo simples guarda de jardim, e demais gente anónima, porque motivo é que toda a gente era tão educada e simpática, uns para os outros, isto numa breve comparação com as gentes do nosso burgo, ao que o Mestre respondeu: – “Todo o Japão é um conjunto de ilhas. Se não fôssemos delicados uns com os outros… (sorrindo-se), acabaríamos todos afogados na água, não acha?”

As regras de comportamento e etiqueta estão reunidas num conjunto de preceitos, denominado em japonês “REIGISAHO”, o que quer dizer em português, «Código de Etiqueta», e que pretende regular, o comportamento de todos os praticantes, num permanente e rigoroso chamamento de atenção ao respeito por “si próprio”, pelos outros, bem como, à auto-disciplina.

São regras que devemos assumir, conscientemente, perante a Associação e a Escola, perante o Dojo e o Sensei, e até, perante nós próprios e a própria Vida.
REIGISAHO

1º. – Ao entrarmos para uma Escola, para aprender Artes Marciais, não devemos suspender o estudo sem uma razão válida;
2º. – Devemo-nos conduzir de maneira a nunca manchar a Tradição e a Honra da Escola;
3º. – Em caso de acidente, não devemos culpar, seja quem for, a não ser nós próprios, e assim, libertaremos a Escola ou os seus membros de qualquer responsabilidade;
4º. – Não devemos fazer qualquer exibição em público, para ganho pessoal;
5º. – Sem permissão dos Mestres, não devemos ensinar, nem divulgar, qualquer segredo a ninguém;
6º. – Não devemos abusar, nem fazer uso dos nossos conhecimentos, em Artes Marciais, seja a que pretexto fôr;
7º. – Sempre que se entra, ou sai, de um Dojo, devemos saudá-lo, com uma ligeira vénia;
8º. – Devemos respeitar os praticantes mais graduados, e ajudar os de menor graduação;
9º. – Quando não estivermos a treinar, devemos tomar uma atitude correcta, mesmo quando fatigados, ou ainda, em momentos de explicações ou de demonstrações, mais prolongadas, por parte do Sensei. As posições de amolecimento ou de enfraquecimento não fazem parte da Ética. Devemos adoptar sempre uma posição altiva e de respeito.
10º. – Devemo-nos conservar em silêncio, sem falar durante as aulas, excepto, quando formos interpelados directamente pelo Sensei, e ao fazê-lo, que seja em tom baixo e respeitoso, numa breve intervenção. As dúvidas surgidas ao longo do treino, só devem ser colocadas no final da aula, ou, quando o Sensei criar pausas para repouso ou explicações;
11º. – Devemos ter cuidado constante com a limpeza corporal, não trazer qualquer peça de vestuário por de baixo do Kimono (Gi), salvo truces, cortando as unhas das mãos e dos pés;
12º. – Devemos manter o «Gi» vestido correctamente, com a calça ajustada à cintura, e o casaco bem composto, devendo ter sempre presente a divisa, (o cinto = Obi);
13º. – Antes de cada treino, devemos despojarmo-nos de todos os adornos e enfeites, como sejam anéis, pulseiras, fios, brincos, relógios, etc.;
14º. – Devemos respeitar os horários das aulas. As entradas tardias, ou as saídas antecipadas, são consideradas manifestações de menos respeito e falta de auto-disciplina, pelo que devem ser evitadas, no entanto, é preferível participar durante meia-aula, do que não treinar. Igualmente, devem ser evitadas as saídas temporárias, para satisfação de necessidades fisiológicas. Estas, devem ser prevenidas antes de se entrar no Dojo;
15º. – Sempre que se treinar com um companheiro de treino, devemos saudá-lo, antes e depois, e sempre com o «Gi» apresentável;
16º. – Não devemos procurar ser fortes, mas justos, nem procurar a vitória sobre os nossos companheiros de treino, mas sim a vitória sobre nós mesmos, através de princípios correctos;
17º. – Devemos possuir inteligência, para compreender aquilo que nos ensinam, paciência, para ensinar o que aprendemos aos nossos semelhantes, e fé, para acreditar naquilo que ainda não sabemos;
18º. – Devemos cultivar a máxima concentração durante o treino, de modo a obtermos uma melhor assimilação, por parte da instrução;
19º. – Devemos aprender e a saber, cada dia, um pouco mais, e usar esses conhecimentos todos os dias para o Bem.
20º. – Devemos cuidar da nossa atitude no Dojo, permanecendo calmos e serenos, o que não exclui o bom-humor.

Devemos respeitar, estritamente, estes regulamentos, (Reigisaho), não só durante o nosso estágio de aluno (gakusei), mas também, mesmo depois de termos sido graduados Senpai.

Existe igualmente, «Os 20 Princípios Regulamentares do Karate-do», o “KARATE-DO NI JU KYOKUN”, que nos foram legados por Gichin Funakoshi, o qual, como já vimos, foi o Grande Mestre, Criador e Codificador do Karate-do.
«Kyokun» significa preceito, mandamento, lei, regulamento, por extensão, “regra de ouro”.
«Os 20 Princípios Regulamentares do Karate-do», correspondem pois, de certo modo, aos Dez Mandamentos, de Moisés, do Antigo Testamento, (O Decálogo do Monte Sinai), ditado por Yavhé / Geová, o Deus dos Judeus; correspondem, igualmente, às Quatro Nobres Verdades, bem como, à Nobre Senda Óctupla, ditada, aos seus discípulos, por Sidharta Gautama, o Buda.
Nesse sentido, os Kyokun são como que, Regras de Ouro, inelidíveis, quase que divinas, as quais, foram concebidas para nos ajudar a alcançar um domínio quase que absoluto, tanto interno como externo, de Despertar e de Sabedoria.
Todos os preceitos constam de vários níveis de compreensão, conforme o nível que se alcança, e eram transmitidos oralmente aos discípulos mais chegados, ou melhor dizendo, aos iniciados, à guisa de “koan” do Zen, onde, depois, eram analizados e comentados, em grupo, até ao Despertar total, «Satori» em japonês.
Alguns Mestres do passado, em circunstâncias várias, porque eram amigos ou discípulos de Gichin Funakoshi, transmitiram por escrito estes preceitos, dando interpretações diferentes, conforme o seu nível de mestria, mas sempre com a mesma base, com o mesmo propósito.

Recuando um pouco no tempo, e porque um pouco de história, não faz mal a ninguém, o Mestre Funakoshi extraíu estes preceitos de uns textos, provenientes dos seus mestres, Azato de Naha-te e Itosu de Shuri-te, os quais, por sua vez, extraíram de textos chineses da velha escola «Shaolin», onde se fazia referência, numa generalidade, à «Arte Marcial», a qual, o Japão sonegou, dividindo-a mais tarde, após a época de 1600, em várias artes marciais, Arte Marcial essa, denominada «Wu-Shu» isto é, “Mão da China”.

Curiosamente, e com os mesmos ideogramas, «kanji», isto é, caracteres clássicos, «Wu-Shu» traduziu-se para japonês, «Bu-Jutsu», isto é, “Artes de Guerra”.

Ora, o Mestre Funakoshi não fez senão adaptá-los à realidade japonesa, sem contudo, modificar o seu sentido mais profundo.
E foi aqui que residiu a grande cisão ideológica por parte do Mestre.
Ao aperceber-se do sentido bélico que tais palavras carregavam, e em vez de alterar o conteúdo da mensagem, como muitos instrutores hoje, infelizmente e interceiramente o fazem, alterou, isso sim, o foco dessa mesma mensagem.
À expressão “Mão da China”, “Wu-Shu” em chinês, lia-se em japonês, “Kara- -te”, donde o ideograma «Kara» significava «Cathay», isto é, “Antiga China”. Gichin Funakoshi, em 1933, modificou o caractere antigo, por um ideograma de proveniência budista, e como tal, de cariz filosófico: «Vazio», o qual, fazendo alusão à técnica de meditação do budismo, também ele importado, vinda da Índia, (Dyhana), via China, (Tchena), o qual, originou no Japão, o Zen.
Mais tarde, é-lhe acopulado a expressão vocal «Do», ao ideograma japonês «Michi» (Caminho), proveniente do «Tao» chinês e com o mesmo ideograma.
Isto pode restabelecer nos espíritos mais incautos, uma certa confusão.
Na realidade, a situação é típicamente japonesa misturar-se religiosidades, isto é, nasce-se “taoísta”, casa-se “shintoísta” e morre-se “budista”.
Eis-nos pois, perante uma grande realidade: é que existe uma diferença, abismal, entre o Karate, antigo, tradicional, tal qual nos foi transmitido por Gichin Funakoshi, e o Karate moderno, o qual, curiosamente, também é tido por “tradicional”.
Qual será a razão de silêncio, de alguns mestres japoneses, acerca dos verdadeiros “Kyokun”?
Podemos afirmar que todos aqueles que ensinam, aqui no Ocidente, conhecem o que é “Kyokun”. Agora, que os tenham estudado ou, que os tenham comentado, e como consequência, tenham entrado em profundidade no seu conhecimento…, isso já é outra coisa!
Para quê complicar-se a vida, quando se está dotado para o combate desportivo e quando temos o nosso ganha-pão garantido, ensinando uma forma de Karate que satisfaça a um número elevado de praticantes?
Talvez seja a razão da importância destes Kyokun, ou do seu «hermetismo» para o praticante comum, mas no entanto é estranho, quando não, inquietante, que esses mesmos “Mestres”, vindos ao Ocidente para transmitir-nos o Karate, que enfim, conhecemos, que dizem ser «tradicional», não façam senão, rara vez, alusão aos Kyokun, salvo em dois casos distintos:

1.

o Primeiro Kyokun, porque lhes convém o respeito pelo «mestre», ainda que, rara a vez que se o viva interiormente;
2.

Segundo Kyokun, porque não podem agir de outra maneira, sendo este Kyokun uma ladaínha, quase que constante, do Mestre Funakoshi.

Enfim,…

Analisemos, seguidamente, e sem quaisquer comentários adicionais, cada um dos 20 Princípios Regulamentares do Karate-do.



Legenda: Texto original do Karate-do Ni Ju Kyokun)
Os 20 Princípios Regulamentares do KARATE-DO NI JU KYOKUN

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1. Karate-do wa rei ni hajimari, rei ni owaru koto wo wasureru na.
Karate-do começa com cortesia, (saudação), e acaba com cortesia.
2. Karate-do ni sente nashi.
Não há primeiro ataque em Karate-do, nem física, nem mentalmente.
3. Karate-do wa gi no tsukuke.
Karate-do é um contributo para sermos mais justos.
4. Mazo jiko wo shire, shikashite ta wo shire.
Primeiro conhece-te a ti mesmo, para então poderes conheceres os outros.
5. Gi jutsu yori shin jutsu.
A técnica mental é mais importante que a técnica física.
6. Kokoro wa hannatan koto wo yosu.
Deves estar sempre pronto para libertar a tua mente.
7. Wazawai wa getai ni shozu.
Os acidentes surgem da nossa negligência.
8. Dojo no mi no Karate-do to omou na.
Não penses que o treino de Karate-do é só no dojo.
9. Karate-do no shugyo wa issei de aru.
Empenha a tua vida inteira para aprender Karate-do, não há limite.
10. Arayoru mono wo Karate-do seyo, koko ni miyomi ari.
Coloca todos os teus dias de vida ao serviço do Karate-do, e encontrarás segredos subtis.
11. Karate-do wa yu no gotoku, taesu netsu wo ataezareba, moto no mizu ni kaeru.
Karate-do é como uma panela de água a ferver, se não mantivermos o fogo aceso debaixo da panela, a água esfria.
12. Katsu kangae wa motsu na, makenu kangae wa hitsuyo.
Não se deve nunca pensar em ganhar, deve-se sim antes, pensar em não perder.
13. Sen wa kyo jutsu tenka seyo.
A vitória depende da tua habilidade em distinguir o verdadeiro do falso.
14. Tekin yo tsute tenka seyo.
O combate deve ser sempre de acordo como te movimentas, protegido ou desprotegido, do teu adversário.
15. Hito no te ashi wo ken to omoe.
Pensa sempre nas tuas mãos e nos teus pés como uns sabres.
16. Danshi mon wo izureba, yaku man no teki ari.
Quando se atravessa um portal, pensa sempre que tens numerosos adversários à tua espera.
17. Kamae wa shoshisha ni, ato wa shizentai.
Os principiantes devem-se colocar em posições baixas, as posições naturais do corpo são mais para os avançados.
18. Kata wa tadashiku, jissen wa betsu no mono.
A prática das Kata é uma coisa, o combate é outra.
19. Chikaba no kyo jaku, karada no shin juko.
Força e fraqueza na potência, alongamentos e contracções no corpo, e lentidão e velocidade nas técnicas.
20. Tsune no shinen kufu seyo.
Pensa sempre e sê criativo em viver estes princípios cada dia.

Estas são palavras muito importantes, as quais, marcam bem, o espírito e o carácter profundo da prática do Karate-do.
Hoje, mais do que Ontem e menos do que Amanhã. Esse é o Caminho dos Verdadeiros Homens.
Abordemos agora a expressão japonesa, que se tornou práticamente, num vernáculo, no mundo do Karate-do, compreendido e divulgado por entre numerosos praticantes de diversas nacionalidades, não sómente em ocasiões de cumprimento diário, mas também no lugar de expressões de comunicação, tais como «obrigado», «prazer em conhecê-lo», «adeus», «compreendido?» e «entendido!»: referimo-nos à expressão nipónica «Oss».
A transcrição fonética da palavra “OSS”, é de facto escrita com dois caracteres «kanji»: o primeiro caracter, que significa literalmente, «empurrar», e o segundo, que significa «sofrer».
Filosóficamente, o primeiro caracter simboliza o espírito combativo, a importância do esforço, e o enfrentar todos os obstáculos, eliminando-os com uma positiva e imutável atitude; quanto ao segundo, ele exprime a coragem e o espírito de perseverança, suportando as dores, o resistir aos momentos de depressão com paciência e sem desistir, mantendo sempre um espírito altivo.

Os jovens possuem qualidades físicas e morais que os capacita a enfrentar qualquer provação. Isto define a juventude. Não obstante, estas qualidades serão mantidas e desenvolvidas sómente por um esforço quotidiano e perseverante. “O talento não existe sem esforço”. A palavra-chave “Oss” é usada como palavra de ordem para reevocar esta máxima aos jovens, a fim de os encorajar a tomar uma resolução, comunicando-se e encorajando-se mutuamente, tal como foi empregue, talvez pela primeira vez, na Escola Naval Japonesa.

A palavra “OSS” não deve ser pronunciada de forma ligeira. De ora avante e para futuro, rexaminem a vossa atitude, postura, estado de espírito, pronúncia e a harmonia entre todos estes elementos; o tronco inclina-se para a frente com as costas direitas, o queixo metido para dentro, tudo isto se articula ao pronunciar a palavra “OSS”.
O movimento, a respiração e articulação assim executadas, tudo contribui para a sensação do «poder» do KI – A Força Cósmica existente em todo o Universo. Referimo-nos aos princípios do OM universal, (pronuncie-se AUM), quando pronunciamos “OSS”, a respiração e o som executam-se em IN.
OM (AUM), é um método de respiração com o objectivo de harmonizar o nosso Ser com o Universo, o qual, significa a harmonia das Forças antagónico-complementares: Céu-Terra, Yin-Yang, In-Yo, que são elementos contrários e que compõem o nosso Universo.
Assim sendo, ao se encontrar um companheiro de treino na rua, ou em qualquer outro lugar, deve-se cumprimentá-lo com um “OSS”.
Quanto ao «Dojo Kun», tal como vimos no cerimonial de treino de Karate- -do, em “Depois 3º.”, é um conjunto de cinco (5) máximas, ou mandamentos, criadas pelo discípulo de Sensei Funakoshi, Sensei Masatoshi Nakayama, grande mentor e propulsor, do Karate-do a nível mundial.
Cada uma delas apela ao desempenho e à prática, tendo em vista o aperfeiçoamento das qualidades básicas de estrutura moral, do Homem social, devendo-se treinar e evoluir, pautando a sua conduta, permanentemente, mesmo nos momentos de maior desânimo.

No final das aulas, elas serão ditadas em voz alta, para que sejam repetidas por todos, e em japonês, sendo indispensável que se conheça o significado de cada uma delas:

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DOJO KUN

«Hitotsu – Jin kaku kansei ni tsuto muru koto»
«Hitotsu – Makoto no michi yo ma muru koto»
«Hitotsu – Doryoko no seishin o yashinau koto»
«Hitotsu – Rei gyo o monzuru koto»
«Hitotsu – Keki no yo o imashi muru koto»

1. – «Hitotsu – Jin kaku kansei ni tsuto muru koto»
(Exorta o teu Ser na Perfeição do Carácter)

Isto significa que, a arte do Karate-do é algo mais do que sómente físico, o qual, todos os praticantes, especialmente os mais novos, deveriam aprender a importância da construção do carácter, através da disciplina e de treino rigoroso. Para o principiante, todo o processo da construção do carácter começa com o aperfeiçoamento das técnicas, através da repetição. O espírito combativo será alcançado, como que, ganhando mais confiança, através do desenvolvimento de técnicas fortes. Treina-se para exteriorizar um determinado estado de espírito, não sómente para combater, mas também, e sobretudo, para subjugar os problemas pessoais, especialmente, em tempos de fraqueza, doença, crises domésticas ou problemas laborais.
É um longo caminho até que se desenvolvam estes valores espirituais, mas uma vez que o conceito seja entendido através da experiência, o mesmo, proporcionará uma vida intensa de benefícios, de força interior e de paz.

2. – «Hitotsu – Makoto no michi yo ma muru koto»
(Sê Verdadeiro e Sincero)

A lealdade é uma forte tradição Samurai. Por aculturação, ela é no Japão uma extenção da influência de Confúcio, tanto na família, como nas artes marciais. A sinceridade deve ser demonstrada, e como tal, é ao nosso Mestre (Sensei), bem como, à nossa Escola (dojo), que devemos demonstrar esse sentimento. Os praticantes devem ser leais sempre ao seu Meste, e segui-lo por vezes, do mesmo modo, como um Samurai mediaval estava ligado e seguia o seu Senhor Feudal (Daimio) até à morte, sem hesitação.
Conquanto isto possa parecer pouco usual, nos dias de hoje, não tem, contudo, razão de ser, esperar que o Mestre ensine tudo o que sabe a um aluno, o qual, muito provávelmente, virá a deixá-lo à mínima contrariedade. O aluno deve provar a sua lealdade ao longo dos anos. A confiança e a lealdade ao Mestre serão recompensadas, numa maior quantidade de conhecimentos e a sabedoria passará então, para o aluno, sendo esta ligação entre Mestre e aluno, extremamente valiosa, não só por manter vivo o espírito da Tradição, como também, a base de toda a relação de aprendizagem, não só no Karate, como na vida…

3. – «Hitotsu – Doryoko no seishin o yashinau koto»
(Cultiva o Espírito da Perseverança)

Etimológicamente, perseverança é a qualidade, ou acção, de quem é perseverante, isto é, aquele que persevera, que persiste firmememte na execução dos seus propósitos, o mesmo que dizer «esforço». Por esforço, pressupõe uma dedicação completa e uma obrigação, necessárias, por formas a obter uma certa mestria da arte do Karate-do. Em caso nenhum, essa mestria será possível, se não houver esforço máximo e sacrifício da parte do praticante. Esse esforço tem de ser de natureza sincera, profunda, e não sómente superficial. Um esforço sério, da parte do praticante, será sempre reconhecido pelo Mestre, na qual, por sua vez, dispenderá mais tempo com ele.

4. – «Hitotsu – Rei gyo o monzuru koto»
(Respeita o teu Semelhante como a Ti Próprio)

O respeito pelos outros sempre foi preconizado por toda a filosofia universal, ocidental e oriental.
Por respeito, entenda-se consideração, sendo uma parte importante da cultura nipónica, e por consequência, muito comum nas artes marciais.
O Mestre Gichin Funakoshi realçava o facto de que, em Karate-do dever-se- -ia começar e acabar com etiqueta. Igualmente, ele estabeleceu que, sem cortesia não havia dojo.
Isto, é a reflexão da natureza formal do povo japonês e, pode ser observado, fazer-se vénias durante o treino, bem como, em casa ou no emprego.
A etiqueta do dojo está bem definida: – “faz-se a vénia correctamente, e mostra-se respeito em tudo o que se fizer e aonde quer que se vá!”
O respeito é extensível a todos e a tudo. Mestres, companheiros de treino, familiares, professores escolares, educadores, leis, mortos, natureza, etc., enfim, tudo…

5. – «Hitotsu – Keki no yo o imashi muru koto»
(Abstém-te de Comportamentos violentos)

Um lutador treinado, seja ele, karateka ou não, é uma pessoa com um espírito, diga-se, competitivo, muito forte. Dir-se-ia mesmo, com um grande espírito de sobrevivência e de uma grande força interior. Assim, torna-se injusto usar toda essa experiência, feita sabedoria, contra uma pessoa não treinada.
O espírito do karateka é imbatível e, como tal, ele deve usar, isto é, tem de usar, todo o seu conhecimento para o «bem», sómente, por uma questão de justiça.
Desta feita, uma pessoa assim, com este carácter, pode perfeitamente, afastar-se de todo o conflito, evitando uma luta, porque ele controla as suas emoções, e por isso, está em paz consigo próprio.
Ele não tem de testar as suas habilidades técnicas na rua, gratuitamente.
Ele vence, sem lutar, e não terá ressentimentos, porque ninguém o injuriará.
«Abster-se de comportamentos violentos» é difícil de explicar aos ocidentais, por causa do seu envolvimento emocional. A sua atitude e a ância natural de vencer, todos os desafios da vida, e eles querem tanto isso «vencer», e o mais rápidamente possível, que por vezes, chegam a estar contra os princípios do Karate-do.

Não nos esqueçamos das sábias palavras que preconizam, a todo aquele que se propõe percorrer o caminho do Karate-do…:

Aprende a lutar para não lutar!

O verdadeiro Mestre é aquele que se mantém calmo no meio da confusão!

Há que amar a Vida sem temer a Morte!

Se começamos a bater-nos, há que vencer, mas bater-se não é o objectivo.

A arte guerreira, por excelência, é a arte da paz, e esta é a mais difícil.

Há que ganhar sem se bater!

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