Caratê
Caratê / caraté
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Grafia
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Outros
nomes
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空手
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からて
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Karate
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Informações gerais
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Escopo
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Aprimoramento
corporal, para funcionar como arma
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Técnica(s)
principal(is)
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Técnica(s)
secundária(s)
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Origem
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País
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Cidade
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Influência
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Antecedente(s)
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Te
Chuan fa |
Representação
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Sítio
oficial
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Caratê (português brasileiro)
ou caraté ou karaté (português europeu) (em japonês:
空手) ou caratê-dô (空手道, transl. karate-dō) é
uma arte marcial
japonesa
(Budō)
que se desenvolveu a partir da arte marcial autóctone de Oquinaua
sob influência do chuan fa chinês e dos koryu japoneses (modalidades tradicionais de luta).
A influência do chuan fa
foi maior num primeiro estágio e se fez sentir nas técnicas dos estilos mais
fluidos e pragmáticos
da China
meridional. A influência das disciplinas de combate familiares do Japão, ou koryu, é notada no desenvolvimento de
movimentos diretos e simples, abandonando aquilo que não seria útil.
Seu repertório técnico abrange principalmente golpes contundentes — atemi waza
—, como pontapés,
socos, joelhadas, bofetadas
etc., executadas com as mãos desarmadas. Todavia, técnicas de projeção,
imobilização e bloqueios — nage waza, katame waza,
uke waza
— também são ensinados, com maior ou menor ênfase dependendo do onde ou qual
estilo/escola se aprende
O estádio da modalidade na transição entre os séculos
XX
e XXI
tem dado ênfase à evolução do condicionamento físico, desenvolvendo
velocidade, flexibilidade e capacidade aeróbia para participação de competições
de esporte de combate, ficando relegada àquelas
poucas escolas tradicionalistas a prática de exercícios rigorosos, que visam
desenvolver a resistência dos membros, e de
provas de quebramento
de tábuas de madeira, tijolos ou gelo. De um modo simples, há duas correntes
maiores, uma tendente a preservar os caracteres marcial e filosófico do caratê
e outra, que pretende firmar os aspectos esportivo e lúdico
A evolução da arte marcial aconteceu capitaneada por grandes mestres, que a
conduziram e assentaram suas bases, resultando no caratê moderno, cujo trinômio
básico de aprendizado repousa em kihon (técnicas básicas),
kata (sequência de técnicas, simulando
luta com várias aplicações práticas) e kumite (luta propriamente dita,
que pode ser simulada, esportiva ou real).
Ainda que comunguem de similitude técnica e de origem, a partir do
primeiro quartel do século XX, surgiram diversas variações de escolas, até umas
dentro das outras, pretendendo difundir seu modo peculiar de entender e
desenvolver o caratê. Tal circunstância, que foi combatida por mestres de
renome, acabou por se consolidar e gera como consequência atual a falta de
padronização e entendimento entre entidades e praticantes. Daí, posto que
aceito mundialmente como esporte, classificado como esporte olímpico e participando dos Jogos Pan-Americanos, não há um sistema
unificado de valoração para as competições, ocasionando grande dificuldade para
sua aceitação como esporte presente nos Jogos
Olímpicos.
A despeito da enorme fragmentação, as várias escolas procuram seguir num
molde pedagógico, pelo que o estudioso dedicado da arte marcial chama-se carateca,
isto é, aquele que busca desenvolver disciplina,
filosofia
e ética,
além de aprender simples movimentos e condicionamento físico, diferenciando-se
assim do mero praticante. Nessa mesma linha, aquele carateca que alcança o grau
de faixa/cinturão preto(a) é chamado de sensei.
História
Antecedentes
Mundo
Um contratempo logo surge quando se trata de estudar as origens das
artes marciais: não há como precisar o momento em que surgiram. O máximo que se
pode fazer são conjecturas a partir do caractere sócio-cultural e traçar uma
linha de acontecimentos mais ou menos coerente dentro de certos aspectos, haja
vista que alguns aspectos duma arte marcial (v. g., algumas técnicas e/ou personagens) têm uma origem bem
conhecida ou documentada, porém, o conjunto não se fecha, se não se incluírem
algumas especulações. O que se sabe é que todos os povos que se organizaram em sociedade
possuem alguma forma de defesa, isto é, pelo menos possuem uma força armada,
pois os ajuntamentos de pessoas eventualmente entravam em choque, por recursos
naturais ou outros motivos.
Naturalmente, seguindo uma linha evolutiva mais ou menos uniforme, tal
como aconteceu com a agricultura, a pesca, a música
e outras atividades, as artes marciais desenvolveram-se como disciplina,
surgindo mestres e aprendizes. Isso, por exemplo, pode ser demonstrado pela existência
das falanges
gregas, modelo que se impôs por certo tempo, até ser superado pelas coortes
romanas, e assim anterior e sucessivamente.
Da Grécia
vem outro exemplo de desenvolvimento das artes marciais como disciplina. As cidades-estados
disputavam a supremacia sobre as demais, pelo que apareceram os períodos ateniense,
espartano, tebano
etc. Dentro de tais circunstâncias, mormente em Esparta
as disciplinas militares tiveram relevo, eis que naquele ambiente foi dado
destaque ao desenvolvimento físico, para fazer frente aos embates e os cidadãos
espartanos (esparciatas)
treinavam de maneira forte tanto a luta armada como a desarmada.
Em se tratando de luta desarmada, no ambiente helênico desenvolveu-se a
arte marcial do pancrácio, que teria surgido por volta do século VII AEC ou antes e cujo
arcabouço técnico englobaria os mais variados movimentos e golpes, desde socos
a estrangulamentos. Como esporte sabe-se ter feito parte dos Jogos Olímpicos
naquela época
Caminhando já na Ásia, onde se acredita ser o berço das artes marciais
modernas, sabe-se que o exército de Alexandre, o Grande enfrentou guerreiros de
várias origens, como de China e Índia. É impossível creditar o desenvolvimento das artes
marciais asiáticas ao contacto com o gregos, pois logicamente existiam já
naquelas paragens suas próprias disciplinas, tanto é que se deu enfrentamento
entre exércitos e não de um exército e pessoas desarmadas, mas houve certa troca
de conhecimentos, o que era inevitável, após a estabilização das relações. De
qualquer forma, havia na Índia uma forma de luta chamada de Vajramushti.
De facto (alguns
ainda dizem tratar-se mais de especulações, posto não existirem fontes
documentais, ou mesmo as que existem tratar-se-iam de relatos de lendas ou
estórias), as artes marciais passaram a ter caracteres mais formais quando um monge budista
indiano chamado Bodhidharma — o primeiro grande mestre —, por
volta do ano 520
EC, no fito de empreender
uma longa jornada em busca da iluminação espiritual, viajou desde a Índia até a
China. O monge ficava onde lhe dessem abrigo, em templos ou
casas, e aproveitava para evangelizar de acordo com sua doutrina
Sua jornada o teria levado até o Templo
Shaolin e, quando Bodhidharma viu as condições físicas precárias em
que se encontravam os monges daquele sítio, exortou-os no sentido que a pessoa
deveria evoluir por completo, desenvolvendo o lado espiritual pero sem olvidar
do físico, pelo que instruiu todos na prática de exercícios.
A prática dos exercícios evoluiu para um sistema de defesa
pessoal, até com o uso de armas e outros instrumentos, fazendo
surgir uma reputação de que os monges lutadores
seriam expertos em diversas modalidades e formas de combate, pelo que se
difundiu por toda a China. Os monges de Shaolin não se isolaram apenas na China
e levaram seus conhecimentos religiosos, filosóficos e marciais para outros
recantos, entre estes o Japão.
Japão
O arquipélago de Oquinaua
(沖縄 Okinawa?) localiza-se quase que
exatamente a meio caminho entre Japão
e China,
no Mar da China
Oriental. Por causa de sua posição geográfica, a região sempre despertou a cupidez
dos dois países, os quais não pouparam esforços para estenderem suas
influências (culturais e econômicas), tornando a existência de um governo local
submetida à conjugação de interesses e política externos. A influência chinesa
era considerável, e alguns praticantes de artes marciais oriundos daquele país
chegaram a Oquinaua.
Apesar da circunstância de gravitar em torno da influência
sino-japonesa, sucedeu na história de Oquinaua, entre 1322 e 1429, um período
denominado de Sanzan-jidai (三山時代, período dos três montes) quando que se debateram os três reinos de Hokuzan
(北山, Monte Setentrional), Chuzan (中山, Monte Central) e Nanzan (南山, Monte Meridional) pelo controle da região. Tal período acabou com a
unificação sob a bandeira do reino de Ryukyu e sob o comando de Chuzan, que era o mais forte economicamente, inaugurando a
primeira dinastia
Sho: Sho Hashi.
Nessa época, influência chinesa consolidou-se como a preponderante das duas e
isso se refletiu na estrutura administrativa do reino e noutros aspectos
culturais.
Entrementes, após a unificação e no fito de conter eventuais sentimentos
de revolta, el-Rei Sho Hashi
promulgou um édito que tornou proibido o porte de quaisquer armas por parte da
população civil. Este facto é considerado o marco principal do processo
evolutivo que veio a culminar no caratê. Já existia em Oquinaua
uma arte marcial própria, porém a medida régia impôs um ritmo diferente, pelo
que, devido à necessidade de as pessoas terem uma forma de defesa e em razão da
proibição real, aquelas técnicas foram-se aperfeiçoando, precipuamente nas
camadas mais pobres da população, que sobreviviam de atividades agrícolas e de pesca, haja vista que as
classes de nobres
(guerreiros),
tal e qual sucedia em China e Japão, tinham suas próprias disciplinas de
combate.
Fruto também da proibição do porte de armas foi o desenvolvimento do kobudo, outra
arte marcial oquinauense que transformou o uso de objectos do cotidiano em
armas, como a tonfa
e o nunchaku,
que eram originalmente instrumentos de trabalho, para manuseio de moinho
e debulhagem de arroz.
A sociedade japonesa, possuindo uma classe guerreira, era há muito
conhecedora de disciplinas de combates com e sem armas. No seio das famílias
e/ou clãs fomentaram-se formas de combate, os chamados koryu, que eram transmitidos
somente internamente. Entretanto, o que importa é que houve certa troca de
conhecimentos, posto que muito velada, e que essas artes evoluíram para atender
exatamente às necessidades do grupos que as usavam.
O que viria a ser o jiu-jitsu surgiu para capacitar o samurai para a luta
desarmada mas usando armadura, pelo que não era racional utilizar
ostensivamente de pontapés e socos mas mais projeções e estrangulamentos. Por
seu turno, o que se desenvolveu em Ryukyu visava justamente o combate
desarmado, sem trajo específico, mas eventualmente enfrentando guerreiros com
armadura, pelo que socos e pontapés eram mais interessantes, isso aliado ao
condicionamento de mãos e pés para serem instrumentos de ataques fulminantes.
A independência do reino de Ryukyu sofreu duro golpe quando, em 1609, o clã samurai
de Satsuma,
com aprovação do imperador do Japão, subjugou o arquipélago.
Por ocasião da invasão, os samurais encontraram pouco ou nenhum revide, porque,
dadas as circunstâncias, el-Rei declarou que a vida é o mais importante tesouro
e recomendou que a população das ilhas não revidasse à agressão estrangeira.
Oquinaua passou a ser um estado tributário de Japão e China, mas,
contrário ao cenário anterior, com predomínio nipônico, que expôs a cultura
local e influenciou sobremaneira o desenvolvimento das artes marciais, sob os
valores da classe guerreira. Naquele momento, o clã Satsuma introduziu sua
própria disciplina, o jigen-ryu.
Arte
das mãos oquinauenses
Em meados do século XVII, a arte marcial oquinauensesem
armas já era estabelecida, sendo conhecida por «tê» (手 ou ティー, em japonês: te,
em oquinauense: ti). Também é referida como mão de Oquinaua (沖縄手, em japonês: Okinawa-te,
em oquinauense: Uchinaadi), quando surge a figura de Matsu Higa,
renomado mestre de te e kobudo e também experto em chuan fa,
que teria aprendido com mestres chineses. Mas já nesse tempo, a arte marcial já
vinha evoluindo em três formas distintas, radicadas nas três cidades que as
nomearam, Naha-te,
Tomari-te
e Shuri-te.
Acredita-se que Sensei Higa tenha sido, dentro de seu estilo próprio, o
primeiro a estabelecer um conjunto formal de técnicas e chamá-lo de te.
Destacaram-se mais os estilos de Shuri, por ser a capital,
e de Naha,
por ser cidade portuária e mais importante entreposto comercial. Entretanto,
posto que tivesse menor relevo no cenário da época, por ser mormente uma cidade
de trabalhadores, pescadores e campesinos, Tomari, devido
a exatamente suas características, desenvolveu o estilo peculiar e muitas vezes
erradamente confundido com o estilo de Shuri. Ademais, em que pese cada um das
cidades ter seu estilo, elas compartilhavam informações e praticantes.[
Na linhagem do estilo shuri-te, caracterizado pelas posturas corporais naturais e
por movimentos lineares de deslocamento e de golpes, seguiram-se a Sensei Higa,
mais ou menos numa linha de instrutor e aprendiz, os mestres Peichin
Takahara, Kanga Sakukawa e Sokon
Matsumura.
Com mestre Takahara[d],
já por influência japonesa, o te
vem a receber os três princípios que culminariam com a transformação da técnica
numa disciplina muito maior já na transição do século XIX
para o século XX.
Ainda no século XVII, o te sofria fortes influências desde a China. Mestre Sakukawa,
por sugestão de Peichin Takahara, foi aprender com o chinês Kushanku
— mestre de chuan fa
— e, depois, diretamente no continente. Tais características não passaram
despercebidas e calharam em que a arte marcial passou a se chamar Tode ou Todi (唐手 ou トゥデ, mão chinesa)[e],
ou ainda Toshukuken (徒手空拳) e Toshu-jitsu (徒手術).
Enquanto isso, em Tomari, seu estilo adquiria uma característica mais
acrobática.[ Os principais
expoentes da região foram os mestres Karyu Uku
e Kishin Teryua,
que deixariam por legado a Kosaku
Matsumora e, em Naha, o te
evoluia numa direção diversa, com movimento de extrema contração, golpes de
curto alcance e condicionamento do corpo para absorção de golpes, tudo
conjugado a técnicas de respiração: ibuki.
Sob o ministério de Sokon
Matsumura, o tode passou
a ter um treinamento mais formalizado com a compilação de uma série mais ou
menos fechada de katas e, principalmente, rompeu-se a
barreira das classes sociais. Com Matsumura, que fazia parte
da elite
guerreira e da corte de el-Rei Sho Ko e sucessores, o tode,
praticado mormente pelas classes trabalhadoras, passou a ser uma arte militar
reconhecida.
Por essa época, ficaram famosos, e quase lendários, os contos sobre as proezas
dos artistas marciais de Oquinaua, como a do mestre de Tomari-te,
Kosaku
Matsumora, que desarmado derrotou um samurai.
Assim, o te era conhecido
também por shimpi tode (神秘 唐手, misteriosa mão chinesa) ou reimyo
tode (霊妙 唐手, etérea/miraculosa mão chinesa).[
Arte
das mãos vazias
Anko Itosu
No fim do século XIX, o caratê ainda era marcado de modo forte por quem
o ensinava, não havia, posto que houvesse similitudes entre as técnicas, um
padrão, o que dificultava sua maior aceitação fora de círculos restritos,
porque era praticado e ensinado num rígido esquema de mestre/aluno.
Nesse meio tempo, sobreveio a final anexação de Ryukyu, em 1875, tornando-se a
província de Oquinaua. Todavia, o que poderia ser o fim tornou-se uma
oportunidade, pois terminou com o isolamento da população do arquipélago,
incorporados de vez à população nipônica. E coube a Anko Itosu,
um discípulo de Matsumura e secretário do rei de Oquinaua, usar de sua
influência para tentar disseminar a arte marcial.
O mestre via o te não
somente como arte marcial mas, principalmente, como uma forma de desenvolver caráter,
disciplina e físico das crianças. Ainda assim, o mestre julgava que os métodos
utilizados até a época não eram práticos: o te era ensinado basicamente por intermédio do treino repetitivo
dos kata. Então, Itosu simplificou o treino a
unidades fundamentais, os kihons, que são as técnicas compreendidas em si mesmas, um soco, uma esquiva,
uma base, e, além, compilou a série de katas Pinan com técnicas mais
simples e que passariam a formar o currículo
introdutório. A mudança resultou na diminuição, supressão em alguns casos, de
táticas de luta, mas reforçou o caráter esportivo, para benefício da saúde:
deu-se relevo a postura, mobilidade, flexibilidade, tensão, respiração
e relaxamento.
Atribui-se ao mestre Itosu a mudança de denominação para karate (空手, mãos
vazias), como forma de vencer as barreiras culturais, as resistências para
aceitação, pois como algo com origem chinesa não era visto com bons olhos,
ademais porque havia tensões latentes entres os dois países.
Em 1900,
aconteceu uma grande emigração desde Oquinaua até o Havaí,
resultando na primeira mostra do caratê a ocidentais, eis que o Havaí tinha
sido anexado pelos EE.UU.
havia aproximadamente dois anos.
O caratê tornou-se esporte oficial em 1902. Evento dramático no desenvolvimento do caratê que é o
ponto em que se aperfeiçoa a transição de arte marcial para disciplina física,
deixando ser visto apenas como meio de autodefesa.
Como resultado de seu progresso, Anko Itosu crê ser possível exportar o
caratê para o resto do Japão e, em começos do século XX,
passa a empreender esforços para tanto, mas não consegue lograr sucesso.
Paralelos a esses eventos, outro influente mestre, Kanryo Higashionna, promovia por si outras
mudanças. Ele desenvolvia um estilo peculiar que mesclava técnicas suaves,
evasivas e defensivas (como esquivas e projeções), e menos as rígidas, e tinha
como discípulos Chojun Miyagi e Kenwa Mabuni.
A exemplo de Itosu, Higashionna conseguiu fomentar os valores neles que levaram
até as mudanças futuras que tornariam o caratê mais aceitável.
Em que pesem a evolução que arte estava experimentando e havendo a fama
de ser um estilo de luta eficaz, fama essa que já havia muito corria pelo
Japão, ainda era pouco conhecida. Não se sabia realmente muito sobre suas
características, fora os praticantes oquinauenses e alguns poucos fora desse
círculo ainda fechado.
Alguns fatores contribuíram, entretanto, para a divulgação do caratê. Um
desses fatores era a mentalidade corrente à época que, mesmo com o processo de
disseminação dos costumes ocidentais iniciado com a Restauração Meiji, ainda
era muito apegada à figura do guerreiro, não sendo incomum o lance de desafios
a lutadores proeminentes ou mesmo a uma casa, família ou paragem. Não se pode
olvidar, contudo, que isso não se deva por bravata mas por orgulho, de suas
tradições e para homenagear seus mestres, resguardando-se a honra (no mor das
vezes). Era comum a prática do dojo yaburi
(desafio ao dojô).
Certa altura, por volta de 1906 chegou a Oquinaua uma praticante de jujutsu (ou de judô, segundo algumas
fontes) que desafiou a todos da ilha a medir forças com ele, para provar que
seu estilo de jiu-jitsu era superior aos do Japão e da região. No dia aprazado,
posto que fosse já provecto (na casa dos setenta anos), no meio de vários
lutadores, o mestre Itosu não quis deixar sem resposta o convite e foi ter com
o desafiante, que interpelou o mestre, dizendo "que honra haveria de
ganhar de um idoso?", mas aquiesceu ao embate, por respeito ao nobre
ancião. A luta foi decidida com apenas um golpe.[
Marcante e decisivo, entretanto, foi um desafio que mestre Choki Motobu
protagonizou. Chegou ao Japão um navio russo, conduzindo um lutador de sambo (Jon Kirter), com
porte físico avantajado (quase 2m de altura) e capaz de cravar um prego na
madeira co'as mãos. O fito daquele lutador era divulgar sua modalidade de luta
e, para tanto, além das demonstrações públicas, que envolviam proezas, como
enrolar uma barra de ferro nos braços e quebramentos, foi lançado um desafio a
todo o país.
A nova correu até Oquinaua, sendo o desafio aceito pelos irmão Motobu,
descendentes da casa real e notórios expertos em artes marciais, além do
caratê, kobudo
e gotende.
Dirigiram-se eles até o Japão. No dia da luta, tudo certo o embate foi decidido
com apenas um golpe na região do plexo solar.
A vitória foi considerada tão surpreendente que criou alvoroço e despertou de
vez o interesse pelo caratê.
Caminho
das mãos vazias
Kenwa Mabuni
Os esforços de Itosu, a despeito de não gerarem os efeitos almejados,
frutificaram nas mãos de seus alunos. Por exemplo, o Mestre Kenwa Mabuni,
como forma de tributo, sistematizou todos os ensinamentos aprendidos no estilo Shito-ryu,
que pretende fundir os estilos Shuri-te e Naha-te e com isso veio a preservar muitas variações de kata; o Mestre Choshin
Chibana, por seu turno, compilou seu conhecimento no estilo Kobayashi-ryu,
pretendendo preservar as exatas formas por ele aprendidas de Matsumura e Itosu.[
Entretanto, aproveitando o interesse no caratê, principalmente depois da
vitória do mestre Choki Motobu sobre o lutador russo, coube a Gichin
Funakoshi lograr grande êxito no objetivo do mestre Itosu, isto é,
difundir o caratê como desporto e nativo da cultura japonesa. Sem olvidar da
empresa de outros grandes mestres, como Mabuni,
Miyagi,
Motobu etc., Funakoshi logrou êxito em difundir o caratê pelo arquipélago
japonês. As técnicas do estilo iniciado por Funakoshi baseiam-se no caratê de
Itosu, mas dando mais ênfase ao aspecto formativo da personalidade,
característica que ficou impressa nas demais linhagens surgidas naquele
momento.
A divulgação não aconteceu sem resistência. A despeito de vários pedidos
para a não exibição de vários mestres que não viam com bons olhos o movimento,
Funakoshi levou o caratê até o sistema público de ensino, com a ajuda de seu
mestre Anko Itosu e, em pouco tempo, a arte marcial já fazia parte do currículo
escolar como disciplina física/esportiva, dando um impulso extraordinária, com
o caratê sendo praticado em vários sítios e sendo bastante apreciado e
valorizado localmente.
Entre 1902
e 1915,
Sensei Funakoshi viajou com seus melhores alunos por toda Oquinaua
realizando demonstrações públicas de caratê e calhou de o inspetor de Educação
da "nova" prefeitura, Shintaro Ogawa, estava particularmente
interessado no processo seletivo para ingresso nas forças
armadas, preocupado em obter um bom grupo, composto por jovens de
boa índoles (valores) e boa compleição. Ogawa ficou
impressionado, que escreveu ao continente dando as novas.[
Sucedeu de o Almirante Rokuro Yashiro assistir a uma daquelas
demonstrações, explicadas por Funakoshi, enquanto seus alunos executavam kata, quebravam telhas e faziam
outras proezas, que expunham a eficácia do condicionamento físico. O almirante
ficou muito impressionado e ordenou que seus homens que iniciassem o
treinamento de imediato. Sucedeu também de, em 1912, o comando Almirante
Dewa escolher doze de seus homens para treinarem caratê por uma semana,
enquanto estivessem ancorados nas imediações. As novas levadas por esses dois
oficiais levaram o caratê a ser mais comentado no Japão.
E no desenrolar dos acontecimentos, calhou de, em 1921, o então príncipe
herdeiro e futuro imperador Hirohito assistir a uma dessas demonstrações, pelo que ficou
admirado e pediu a feitura de um evento nacional em Tóquio, realizado em 1922. O evento foi muito
bem sucedido e ocasionou de o mestre Funakoshi ser coberto de convites para
apresentar sua arte e um desses convites foi feito por Jigoro Kano,
para ser feito no instituto Kodokan.
Durante o evento, que levantou a plateia, mestre Funakoshi foi
convencido a permanecer no Japão e, com a ajuda de Jigoro Kano, de que se
tornou amigo íntimo, o caratê foi difundido.
O mestre sabia que haveria de surgir enorme oposição, haja vista que
naquele período da história das relações entre Japão e China não era dos
melhores. Ainda era muito recente a lembrança da Primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-1895). E até o fim da Segunda Guerra Mundial e da Segunda Guerra Sino-Japonesa, com a rendição do Japão perante os Aliados, ocorreram vários
incidentes belicosos.
Tais circunstâncias levavam à conclusão de que uma arte marcial
de origem chinesa seria certamente repudiada, pelo que a mudança da arte para o
karate-dō (空手道, caminho das mãos vazias), isto é, com o acréscimo do sufixo
"dō", como se deu com muitas das artes marciais praticadas no Japão.
A partícula do significa
caminho, palavra que é análoga ao familiar conceito de tao. Daí que o caratê deixou de ser encarado apenas em seu
aspecto técnico, ou jutsu, para
serem realçados o filosófico e o físico (educacional).
Por outro lado, o caratê beneficiou-se de uma perspectiva que existia, a
de que a luta nativa de Oquinaua, aí incluso o seu kobudo (manipulação de armas), era simplesmente uma forma de jujutsu ou koryu.
Assim se pensava porque tanto os vários estilos de jujutsu (takenouchi-ryu, daito-ryu
etc.) japoneses quanto o oquinauense valiam-se das mesmas formas técnicas (luta
desarmada, principalmente), diferenciando-se apenas no foco e no treinamento,
ou seja, nada de estranho, se comparado à tradição samurai. Denominava-se o
caratê de tejutsu, o que
reforçava esse aspecto.
Mestres de caratê na década de 1930
Entrementes, a proposição de Mestre Itosu, pela escrita do nome da arte
marcial como kara-te-dō foi
objecto de debate em 1933,
e o mestres na época acordaram que seria a melhor escolha, o que reflectira a
unidade do caratê e sua originalidade, posto que houvesse sofrido diversas
influências alienígenas.
Do modo como se desenvolveu, um elemento da cultura japonesa, o caratê
está imbuído de certos elementos do Zen-budismo,
sendo que sua prática algumas vezes é chamada de "zen em movimento".
As aulas frequentemente começam e terminam com curtos períodos de meditação.
Também a repetição de movimentos, como a executada no kata, é consistente com a meditação zen pretendendo maximizar o autocontrole,
a atenção, a força e velocidade, mesmo em condições adversas. A influência do zen nesta arte marcial
depende muito da interpretação de cada instrutor.
Devido aos esforços de Funakoshi o caratê passou a ser ensinado nas universidades
de Shoka, Takushoku, Waseda e Faculdade de Medicina.
Jigoro Kano
A modernização e sistematização do caratê no Japão também incluiu a
adoção do uniforme branco (quimono ou karategi) e de faixas coloridas indicadoras do estágio
alcançado pelo aluno, ambos criados e popularizados por Jigoro Kano,
fundador do judô.
As contribuições de Jigoro Kano não se limitam ao uniforme de
treinamento e à padronização das graduações, mas vão até a técnicas, que foram
compiladas dentro do estilo Shotokan. O conceito de do,
posto que presente há muito, foi de certa forma reinterpretado segundo suas
ideias.
Depois que Funakoshi demonstrou o caratê, outros mestres de Oquinaua
seguiram pela mesma trilha e se foram, no fito de conseguir novos alunos e
divulgar ainda mais. Um daqueles mestres era Kenwa Mabuni,
que se fixou em Osaca
e, no ano de 1931,
criou a Dai-Nihon Karate-do Kai,
para dar apoio a seu estilo, que foi registrado, primeiro como Hanko-ryu, e, depois, Shito-ryu.
Entrementes, somente durante a década de
1930 foi que a Associação Japonesa de Artes Marciais, Butoku-kai,
reconheceu oficialmente o caratê como arte marcial nipônica e requereu que
todas as escolas fizessem registro na entidade, exigindo para esse registro que
cada uma delas indicasse os nomes de seus estilos.
Em maio de 1949,
alguns discípulos de Funakoshi criaram uma associação cujo escopo principal
seria a promoção do caratê. O nome dado foi Nihon Karate Kyokai (日本 空手 協会, (Japan
Karate Association - JKA, Associação Japonesa de
Caratê), e o primeiro presidente foi Saigo Kichinosuke, membro da Câmara Alta
do Japão, neto
de Saigo
Takamori, um dos maiores heróis do Japão Meiji.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o caratê tornou-se popular na Coreia do Sul
sob os nomes tangsudo ou kongsudo quando a pratica do taekwondo
foi proibida pelos japoneses após sua invasão.
Após a Segunda Guerra Mundial, o mestre Funakoshi
com seus alunos conseguiram que o Ministério da Educação classificasse o caratê
como educação física e não como arte marcial, tornando possível seu ensino,
durante a ocupação do Japão. Depois dos EE.UU. o caratê
foi difundido pela Europa
e o mundo.
Atualidades
Posto que mestre Funakoshi pregasse que o caratê era uma arte marcial
única, que as variações nas formas, nos estilos, deviam-se precipuamente às
idiossincrasias e que jamais denominou sua linhagem de estilo, ainda durante
sua existência e persistindo até os dias atuais, o que sucedeu foi uma
proliferação de estilos, escolas e linhagens diferentes.
A grande variedade de estilos e escolas, se por um lado facilita essa
disseminação, por outro, causou enormes dissensões e cisões entre entidades e
representantes. Muitas vezes, o que motivou a cisão foram disputas políticas
e/ou ideológicas.[31]
Depois de criada por discípulos de Funakoshi, a quem aclamaram como
líder, em 10 de abril
de 1957,
a JKA ganhou a condição de entidade oficial, mas, cerca de duas semanas depois,
o grande mestre faleceu com a idade de 89.
Olimpíadas
Em 19 de junho
de 1999,
depois de muitos anos e muitos episódios marcados pela discórdia, na 109ª
Sessão do Comitê Olímpico Internacional - COI, confirmou-se o reconhecimento
da Federação Mundial de Caratê (World Karate
Federation - WKF,
em inglês) como o ente governativo do caratê
mundial, o que significava o também reconhecimento do esporte como esporte
candidato a figurar nos Jogos Olímpicos de Atenas,
em 2004,
como esporte de demonstração, cuja confirmação dar-se-ia na 111ª Sessão do
Comitê, para o ano seguinte.[4]
O COI estabelece dois parâmetros
para a aceitação de um esporte como olímpico: ser praticado em muitos países
(membros) e ser representado por uma entidade mundialmente reconhecida.
Aparentemente, o caratê possui apenas um desses requisitos!
No
Brasil
Da mesma forma como sucedeu com outras artes marciais japonesas, o caratê foi
introduzido no Brasil
com a chegada de imigrantes japoneses no começo do século XX.
Mas somente no ano de 1956,
o sensei
Mitsuke
Harada (Shotokan) instala o primeiro dojô em São Paulo.[32]
A esse exemplo seguiram os mestres Juichi Sagara
(Shotokan), em 1957;
Seichi
Akamine (Goju-ryu), em 1958; Koji Takamatsu (Wado-ryu); Takeo Suzuki
(Wado-ryu); Michizo Buyo (Wado-ryu); Yoshihide Shinzato (Shorin-ryu); Takeda, Kimura
e Fábio Sensei (Bushi Ryu), em 1992; Akio Yokoyama (Kenyu-ryu), em 1965.
A prática da modalidade percebeu um aumento depois que participantes de
competições de artes marciais mistas lograram vitórias,
como é o caso do carateca Lyoto Machida.
Em
Portugal
Em Portugal,
a arte marcial foi introduzida entre os anos de 1962 a 1964, quando se reuniu um
grupo de pessoas que praticam a modalidade na Academia de Budo, em Lisboa. Aquele
grupo, entonces, organizou-se melhor e entabulou os primeiros contactos co'as
entidades de âmbito mundial. E, na década de
1970, com a criação de entidades representativas de alguns estilos.[35][36]
Em 1980, foi fundada a Associação Portuguesa de Karate-Do. Depois, ou as entidades cresceram ou se fundiram.
Ética
e filosofia
Além das mudanças para facilitar a divulgação do caratê, os mestres do
começo do século XX (mormente Funakoshi, que aproveitou também esse aspecto da
cultura japonesa, relevante naquele momento) foram eficazes em imprimir
solenidade aos treinamentos, respeito para com mestres, instrutores e
praticantes, de forma mútua, o que realça o carácter de formação de bons
indivíduos. Isto, contudo, sem olvidar que naturalmente no processo de formação
da arte marcial desenvolvia-se um paradigma para as condutas dentre e fora do
sítio de treino. Neste ambiente, alguns dos mestres eram reconhecidos por sua
moral e trabalhos nesse sentido.
O treinamento tradicional de caratê deve começar e terminar com um breve
momento de meditação, mokuso,
cuja finalidade é preparar o carateca para os ensinamentos que receberá e, depois, refletir
sobre os mesmos. A cada momento ou exercício faz-se saudação no começo e no
fim, sendo costume difundido em vários dojôs fazer uma reverência ao entrar e
sair do sítio.
Esse carácter mais abrangente do caratê é bem visível pela partícula
"dō" (道) de seu nome. Tais princípios, posto que a grande mudança filosófica
ocorrida nas artes marciais japonesas possa ser
localizada na transição do século XIX
para o XX,
possuem suas raízes fincadas bem mais no passado.
Historicamente, foi o monge Peichin
Takahara quem primeiro a descreve a filosofia do "dō", do
caminho de evolução que são as artes marciais, em sintonia com os ensinamentos
do caratê. Ainda no século XVII, ele descreveu as três vertentes
que, combinadas, culminam na evolução da pessoa: ijo, fo e katsu.
- Ijo (径) pode ser expresso em atitudes pró-ativas em favor de terceiro. Também se diz que a forma ijo respousa na compaixão, humildade e no recato.
- Fo (则, princípio) é o compromisso, isto é, a dedicação que alguém tem para com algo; no caso, o afinco com que um carateca treina os conhecimentos ensinados, a seriedade e devoção que nutre, além, para com seu mestre e colegas.
- Katsu (奉, observância) reflete-se no conhecimento, na compreensão que a arte marcial possui, mas compreendida nos mínimos detalhes e em que momentos, da vida ou de um enfrentamento real, farão sentido.
O conceito do caminho evolutivo que é a prática do caratê pode ser
achado em todas as artes marciais japonesas, tratando-se uma leitura japonesa
do tao. Como
caminho, por conseguinte, deve ser interpretado de forma bem abrangente, para a
compreensão de um ciclo de vida. De outra forma, uma vez que o
ciclo da vida é já um caminho pré-determinado, um sistema no qual todas as
formas e seres estão inter-relacionados, mister haver a consciência de que
existe uma relação de interdependência de todas as coisas e situações: o
aprendizado não seria mérito pessoal mas o resultado da relação voluntária do
praticante com o ambiente e com todos os seres.
Nesta cércea, o caratê se insere como uma das disciplinas do Bushido,
o código de ética do guerreiro. Assim, o caratê é muito mais do que
uma forma de luta (o "dō" rejeita esta visão limitada), é um modo de
vida. Os mestres prolataram um conceito, o que de nesta arte marcial, além de
não existir atitude agressiva, em caso de embate, nunca o carateca faria o
primeiro movimento:
“
|
空手に先手無し
Karate ni sente nashi No caratê não há primeiro movimento (ataque) |
”
|
Sob duas ópticas capitais e pragmáticas, ressai o escopo pacífico da
modalidade. Primeiro, caso se enfrentem dois caratecas, nenhum deles tomará
atitude ofensiva, pelo que o combate nunca existirá. Depois, caso o
enfrentamento se desse contra alguém que não é um carateca, com a atitude
pacífica ou desestimularia o ataque ou, se esse existir, poder-se-ia usar da
energia despendida pelo contendor para resolver a demanda. Trata-se destarte de
uma abordagem complementar à do shinbu.[40]
Dojo
kun
A par dos princípios básicos elencados e tendo em foco o Bushido, o mestre Kanga
Sakukawa elaborou um código,
o Dojo kun, para servir de
norte à prática do caratê.[41]
Tal código é composto por cinco regras:
“
|
|
”
|
Tode
jukun
Sensei Anko Itosu, quando se dirigiu aos
administradores japoneses, no fito de divulgar o caratê por todo o Japão,
referiu-se à sua arte marcial em forma de princípios que poderiam ser
facilmente compreendidos. Assim, tal conjunto de princípios ficou conhecido
como Tode jukun,
ou os Dez Princípios do Tode.[42]
“
|
|
”
|
Niju
kun
Imbuído pelo conceito do "dô" e a exemplo do que fizeram os
mestres do passado, em particular, seu instrutor directo, mestre Sakukawa, Gichin
Funakoshi elaborou um código ético, Niju kun,
o qual seria difundido em sua escola, mas se acabou por espraiar-se por outros dojôs. O nome significa
literalmente as vinte regras:
“
|
|
”
|
Estilos
A despeito do que preconizavam os grandes mestres, hodiernamente, há na
seara do caratê um grande número de divisões, sendo as mais conhecidas os
estilos, e reconhecidos pela Federação Mundial de Caratê, Shito-ryu,
Shotokan,
Goju-ryu
e Wado-ryu.
Todos eles criados na primeira metade do século XX. Reconhecidos pela WUKF, há os estilos Shorin-ryu,
Uechi-ryu,
Kyokushin
e Budokan,
além dos reconhecidos pela WKF.[43]
Há, contudo, muitos outros estilos, como maior ou menor renome, como Shindo jinen
ryu, Seiwakai,
Shudokan,
Toon-ryu,
Chito-ryu,
Kenyu-ryu,
Isshin-ryu
etc. Há ainda alguns estilos que nada mais são do que visões mais
tradicionalistas ou ortodoxas de um estilo, como é o caso do Shotokai,
que propala estar verdadeiramente conectado à escola criada pelo mestre
Funakoshi; aqueles que são uma visão particular e/ou moderna, como o Gosoku-ryu,
que é uma recopilação baseada no Shotokan; ou estilos que são compilações de
outros estilos, como o Kata shubu do ryu.
Subdivisões
Em termos de artes marciais, há que se notar que a palavra «escola» não
tem o mesmo sentido empregado no uso comum. O caratê é uma arte marcial que se
subdivide em diversos estilos, o Shorin-ryu sendo um dos mais antigos entre
eles. Cada estilo, identificados geralmente pela partícula ryu (流 ryũ?, fluxo), é uma forma distinta
de se praticar uma determinada arte marcial. Nesse sentido, membros de estilos
diferentes terão nomes diferentes para golpes semelhantes, kata e kihon próprios, diferentes
progressões de faixa, ou nível, e até mesmo metodologias de ensino variadas. O
que une os diferentes estilos é a consciência
de que são como galhos
de uma mesma árvore,
no caso a arte marcial em questão.[44]
As escolas, kan (館? edifício, casa), por sua vez, são visões particulares de um determinado
estilo. Muitas vezes elas se originam como tributos a mestres muito graduados
e, algumas vezes, acabam se transformando em estilos propriamente ditos, como
foi o caso do estilo Shotokan, que deve ser mais corretamente chamado de
Shotokan-ryu (uma vez que Shotokan seria a Escola de Shoto e Shotokan-ryu seria
o Estilo da Escola de Shoto). Uma "escola", nesta cércea, não é,
portanto, um local de aprendizado de técnica, mas um conjunto de ideias dentro
de um estilo.[45]
Outra subdivisão pode se dar com o surgimento de uma linhagem, marcada
com a adição do sufixo ha (派? facção,
escola,
seita),
que, semelhante às escolas, imprimem uma visão particular de um estilo ou de
uma escola. Nessa leva, existem as linhagens, por exemplo, Hayashi-ha,
Motobu-ha
e Inoue-ha,
do estilo Shito-ryu;
Goju-kai e Seigokan,
do estilo Goju-ryu;
ou Shobayashi-ryu,
Matsubayashi-ryu
e Kobayashi-ryu,
do estilo Shorin-ryu.
Nota-se, portanto, que não existe um padrão ou uma norma para definir os
nomes dos estilos e suas respectivas ramificações. E divergências de entendimento
são naturalmente esperadas, pelo que variações de uma mesma forma não seria
algo insólito e nem as pessoas terem por desiderato trilhar caminhos distintos,
porém dever-se-ia restar cônscio da origem comum.
Os mestres tradicionais pensavam que qualquer arte marcial deveria ser
assemelhada a um flúmen, isto é, fluente e flexível. De outro modo, uma arte
marcial deveria ser o resultado dum constante processo de aprimoramento individual,
pelo qual o budoca adaptar-se-ia conforme os
conhecimentos adquiridos e nunca seria idêntica, posto que duas pessoas
praticassem a mesma, por igual período e com um só mestre, pois as pessoas não
são iguais. Assim sendo, não haveria razão para existirem diversos estilos.
Os locais de aprendizado são chamados de dojôs, sendo estes, via de
regra, filiados a alguma ramificação.
Técnicas
Currículo
O repertório técnico do caratê está dividido, de modo básico, em dois
grandes grupos go waza (剛 技 técnicas rígidas?) e ju waza (柔技 técnicas suaves?), que compreendem
respectivamente os golpes de impacto e os de controle. Sendo que isso não tem
nenhuma relação com estilo ou mesmo a denominação deste, são dois aspectos
presentes em qualquer sodalício ou modo de se ensinar/aprender a modalidade.
As técnicas rígidas englobam todas aquelas golpes e movimentos em que há
explosão de energia, promoção ou absorção de impacto, daí seu nome (saltos,
socos, chutes e pancadas). A sua contrapartida são as técnicas suaves, ou
aquelas nas quais visa-se mormente o controlo da energia da luta e da do
adversário contra si mesmo e controlo dele de per se (projeções, caimentos, imobilizações e luxações).
Além da divisão conforme a natureza do movimento, pode-se dividir as
técnicas do caratê em dois grandes grupos, te waza (手 技 técnicas manuais?) e soku waza (足 技 técnicas podais?), e um grupo menor, atama waza (頭 技 técnicas capitais?).E, bem assim, em uke waza (受け 技 técnicas de defesa?) e kogeki waza (攻撃 技 técnicas de ataque?). Os vários grupos e
subgrupos tendem a misturar-se, exibindo a noção de que uma técnica pode ter
variados fitos, ou seja, um mesmo movimento ou golpe pode ser usado tanto como
defesa como ataque, o que vai realmente prover uma diferenciação mais objetiva
não exatamente o golpe em si mas o binômio de cenário de enfrentamento e
intento. Daí que nas técnicas manuais incluem-se defesas, ataques, projeções,
imobilizações. E isso também é verdade quando se focam os movimentos feitos com
os pés.